Fisiculturismo feminino. Conheça Larissa cunha





Larissa Cunha
(nascida em Curitiba) é uma fisiculturista brasileira. Possui licenciatura em educação física pela PUC-RS e é especialista em treinamento desportivo pela UFPR Larissa consegue erguer mais de 130 Kg no supino e com as pernas mais de 450 kg e possui 3% de gordura corporal



Títulos:

  • Campeã Mundial Nabba World International 2010
  • Miss Physique Universe 2009
  • Vice Campeã Mundial 2007
  • Campeã Sulamericana 2007
  • Tri-campeã Brasileira 2006/2008
  • Campeã Paulista 2006
  • Bicampeã Copa Sul-Sudeste 2005/2006
  • Vicecampeã Sulamérica 2006
  • Pentacampeã Paranaense de Fisiculturismo
Entrevista com Larissa Cunha

Eu sabia que ia ser bom entrevistar Larissa Cunha. Antes mesmo do Bodybuilding Brazil entrar no ar, eu já vasculhava o site da atleta, revia as fotos, os vídeos, e aguardava a melhor oportunidade para uma boa conversa.
Porque Larissa Cunha tem que ser ao vivo. Nada de questionários preparados, nada de bate-papo no MSN, nada de entrevista corrida em meio ao stress dos campeonatos.
Conhecer Larissa Cunha de perto é desvendar alguns enigmas (e adquirir outros rs). A energia incessável, a alegria contagiante, a seriedade e a garra na hora do treino, a voz suave na hora do bate-papo, a sensibilidade certa nos momentos inesperados, a timidez na hora de algumas fotos (e a ousadia em outras), tudo revela um pouco da força e da beleza da atleta.
Ah, mas eu também sou bonito, você é lindo, nós somos fantásticos etc. Larissa Cunha é outro nível. Tudo está ali, mas você percebe que muita coisa você só vai entender bem depois. Talvez porque os ingredientes para a vitória não estejam em uma sala de musculação. Talvez porque Beleza e Força não sejam aquilo que você vê no espelho.


BODYBUILDING BRAZIL: Eu viajei pra cá ao lado de uma senhora distinta e muito bem vestida. Ela estava lendo um livro e aparentava ter uns 50 anos. Na hora do amendoim, começamos a conversar. Conversa vai, conversa vem, ela me perguntou o que eu fazia. Respondi que era dono de um site de fisiculturismo e musculação. Em um segundo, a mulher encostou o corpo na parede do avião e disse: “Nossa, eu nunca imaginaria! Fisiculturismo?” Ela franziu a cara e, a partir daí, o papo ficou meio esquisito. Me explica por que, Larissa?

LARISSA CUNHA: Eu acho que ela sentiu algum tipo de preconceito pelo nosso esporte. Pessoas que não conhecem o bodybuilding têm essa imagem; julgam o atleta pelo estereótipo da pessoa. Não conhecem a verdadeira essência do atleta, qual é o nosso trabalho, qual é a nossa paixão, o que nos move a competir e que emoções sentimos ao subir no palco.
BODYBUILDING BRAZIL: Ultimamente, com as viagens, eu nunca vi isso tão claro. Evasivas, sorrisos amarelos... Você também sente isso?

LARISSA CUNHA: Isso caracteriza muito a falta de cultura do brasileiro, né? Nós, infelizmente, ainda somos um pouco ignorantes em relação ao culturismo. Eu sinto sim. Por mais que a mídia ajude e esteja valorizando um pouco mais agora, esse preconceito ainda existe.
BODYBUILDING BRAZIL: Quando você começou, como era? Quando você escolheu o fisiculturismo e passou a competir, as mudanças começaram a ficar visíveis...
LARISSA CUNHA: Na verdade, foi assim: eu sempre achei lindo uma mulher musculosa. Então, quando eu tinha 13 anos de idade, ia para a academia com minha mãe.
BODYBUILDING BRAZIL: Treze???

LARISSA CUNHA: Treze. Minha mãe fazia aula de musculação e eu ficava vendo revistas. Um dia, apareceu por lá uma revista de fisiculturismo. Eu não faço idéia de como essa revista foi parar naquela academia. Há vinte anos atrás, era muito raro! Eu vi a revista e disse: “Gente, eu quero ser assim”. E fiquei com aquilo na cabeça.
BODYBUILDING BRAZIL: Daí para convencer a mãe que era bom...

LARISSA CUNHA: Nem precisei... Eu sempre falava com ela: “Mãe, eu quero ser musculosa...”

BODYBUILDING BRAZIL: E a reação?

LARISSA CUNHA: “Ah, legal, filha!”, ela dizia. Ninguém sabe o quanto é difícil, né... Ninguém sabe que é difícil você fazer dieta, que você treina anos e o músculo não sai do lugar... A gente acha que é fácil, pensa que vai começar a treinar e pronto. Mas não é assim não. Minha mãe, vendo minha vontade de ser atleta, contratou uma personal trainer e uma nutricionista. E eu comecei o trabalho. Aos 21 anos, ganhei meu primeiro Paranaense, fui para o Brasileiro e fiquei em quarto lugar.

BODYBUILDING BRAZIL: A reação de sua mãe não é muito comum, concorda? De alguma forma, você cresceu protegida e incentivada. Ela te preparou para as reações preconceituosas?

LARISSA CUNHA: Ah, minha mãe sempre foi uma mulher muito forte, e falava pra gente, desde pequeno (nós somos 3 irmãos: eu, Marco Cunha – lutador de Muay Thai – e Paulo Cunha – tenista - todos atletas). Ela sempre falou com a gente: “Tenham dignidade, honestidade, façam tudo para as pessoas notarem o caráter de vocês. Só que não deixem que ninguém pise em vocês e façam sempre o que acharem certo.” Eu cresci com gente me xingando na rua...

BODYBUILDING BRAZIL: Mesmo?

LARISSA CUNHA: Ah, muito... Eu via as pessoas me criticando e pensava: “Que judiação, mais um ignorante...” Continuei e estou muito feliz em tudo o que faço.

BODYBUILDING BRAZIL: Hoje, você acha que melhorou?

LARISSA CUNHA: Já melhorou. As pessoas, agora, olham com um pouco mais de curiosidade, principalmente depois que eu ganhei o Universo da NABBA. Fiquei mais conhecida, as entrevistas foram bem mais focadas na essência da Larissa Cunha, mais no meu dia a dia, minha vida, e isso valorizou bastante. Hoje, saio na rua e as pessoas falam: “Eu vi você na televisão, parabéns!” ; “Que legal, você é atleta do Brasil!”

BODYBUILDING BRAZIL: E como você fica?

LARISSA CUNHA: Ah, eu fico super feliz, agradeço, isso me envaidece muito.

BODYBUILDING BRAZIL: Começa a despertar mais uma curiosidade ao invés de um preconceito.

LARISSA CUNHA: Eles não param mais pra gritar, xingar... Eles elogiam!

BODYBUILDING BRAZIL: Precisou de quantos anos pra isso?

LARISSA CUNHA: Só dezesseis anos...

BODYBUILDING BRAZIL: A partir de quando você foi competir no exterior?

LARISSA CUNHA: Em 2006, eu fui para o Sul-Americano, em Assunção; em 2007, fui para o Equador (onde fui Campeã Sul-Americana) e para o Mundial, na Espanha; em 2008, fui novamente para a Espanha; em 2009, venci o NABBA Universe, na Inglaterra, na categoria Physique.

BODYBUILDING BRAZIL: Tem muito mais atletas lá fora que aqui.

LARISSA CUNHA: Bem mais.

BODYBUILDING BRAZIL: Por que?

LARISSA CUNHA: Bom, eu acho que deve ser por causa do incentivo. A maior parte das pessoas que competem lá fora têm patrocínio 100%; eles vivem para competir. Aqui, não: eu trabalho 10 horas por dia, encontro esse tempinho que você viu hoje para treinar, acordo às 5:15hs da manhã (para fazer aeróbico) e ainda faço faculdade à noite. Aqui, você tem que se virar mesmo.

BODYBUILDING BRAZIL: É mais fácil ser musculosa lá fora? Em países como a Noruega, a Dinamarca, a Finlândia, existe quase uma tradição. Elas não chegam a ser regra, mas vocês são exceção aqui.

LARISSA CUNHA: É verdade. Elas já têm uma estrutura óssea bem maior que a nossa. A gente anda na rua e vê aquelas mulheres enormes, com altura e ossos grandes! Eles estão mais acostumados com o visual da mulher grande. No Brasil, temos a estrutura mais mignon, com muito glúteo, muito silicone (risos), somos bem menores que elas. E quando escolhemos o esporte, passamos um pouco além do padrão que a sociedade está acostumada. Daí, já olham a gente com outros olhos...

BODYBUILDING BRAZIL: Você sente que lá fora é mais fácil?

LARISSA CUNHA: É mais fácil porque até as pessoas que não são atletas fazem musculação, pela saúde e qualidade de vida. É cultura... As academias que eu visitei lá fora estão cheias de crianças, adolescentes e muitos idosos treinando.

BODYBUILDING BRAZIL: Qual a reação do público quando vêem uma fisiculturista?

LARISSA CUNHA: Gostam de tirar fotos, fazem muitas perguntas também.

BODYBUILDING BRAZIL: A repercussão de mídia é maior no exterior?

LARISSA CUNHA: Sim! Foram 69 emissoras européias cobrir o Universe. Aqui, mal sai alguma coisa no jornal local. No exterior, fazem vídeos, fotos, entrevistas...

BODYBUILDING BRAZIL: Você chegou a ver a repercussão dessas coberturas?

LARISSA CUNHA: Eu não tive tempo porque competi e já viajei no outro dia. Mas na internet tem muita coisa: encontro foto minha em site do Japão, da China!
BODYBUILDING BRAZIL: No palco, você é uma das atletas mais alegres que eu já vi. Parece um show de axé (risos). Por que?

LARISSA CUNHA: É que eu sou uma pessoa muito feliz mesmo. Hoje, você falou várias vezes para eu parar de dar risada e ficar séria. Eu não consigo. Meu dia a dia é assim. Eu sou muito feliz, muito alegre. As músicas que eu escolho sempre são do Brasil, porque transmitem essa alegria.

BODYBUILDING BRAZIL: Mesmo trabalhando 10 horas por dia? Nesse frio?

LARISSA CUNHA: Hoje está frio mesmo (risos). Daqui a um mês, quando começar a preparação séria para competir, eu fico um pouquinho mais séria. Mas é só um pouquinho.

BODYBUILDING BRAZIL: Até movimento de capoeira eu já vi em suas apresentações. Isso é pensado? Assim: ‘eu sou uma brasileira e vou competir lá fora’. Você utiliza esses elementos pensando em prêmios e na empatia com o público?

LARISSA CUNHA: Não, eu sou uma brasileira e vou pra fora competir naquilo que eu dou o melhor de mim. Então, escuto a música e digo: “Esse ano, vou com essa”. Gravo, e fico pensando numa coisa. Chega na hora, eu não faço o que penso; faço o que dá no meu coração.
BODYBUILDING BRAZIL: E qual é a reação do público quando vê essa alegria toda?
A entrevista continua abaixo:

BODYBUILDING BRAZIL: Como é o seu dia a dia?

LARISSA CUNHA: Eu deveria ficar um pouco mais em casa (risos). Acordo às 5:15hs da manhã e vou andar na ciclovia por meia hora, 40 minutos; passo em casa, pego minhas coisas e venho para a academia; trabalho das 7 às 9; treino das 9 às 10; depois, mais trabalho, até às 14h; volto pra casa, almoço, preparo todas as minhas coisas para o segundo turno do dia; retorno às 16:30 para a academia e dou aula até às 19h; corro para a faculdade (chego sempre atrasada) e, no intervalo, vou até o parque, dou uma volta de meia hora (porque não tenho tempo de fazer aeróbico na academia), volto para a aula e chego em casa às 23 horas.

BODYBUILDING BRAZIL: De segunda a domingo?

LARISSA CUNHA: De segunda a sexta. Sábado, eu tenho faculdade até às 10. Depois, passo na academia, dou um personal, treino, e vou para o cabeleireiro, manicure, depilação... Daí, vou pra casa e, depois, vou para a igreja, todo sábado e domingo. Sábado é meu grupo familiar (eu sou Evangélica da “Comunhão Cristã - ABBA”) e, todos os domingos, vou ao culto também. Em casa, eu fico o máximo que posso. Não saio, não vou pra balada, nada. O meu lazer é a minha casa.

BODYBUILDING BRAZIL: Existe uma noção na cabeça de uma boa parte do público – e também na cabeça de muitos atletas – que liga determinados esportes a uma postura marginal, agressiva, ligando o atleta ao lado “bad” da coisa. Aí, você vem me falando de igreja, dizendo que gosta de ficar quieta, que gosta de trabalhar...

LARISSA CUNHA: As pessoas não entendem que você possa ter um lado espiritual porque você cultua seu corpo. O culto ao corpo é pensado como “anti-espiritual” (no Brasil, lógico). Eu entendi o que você perguntou, mas ainda não estou sabendo me expressar...

BODYBUILDING BRAZIL: A religião te ajuda?

LARISSA CUNHA: Me ajuda. Me ajuda muito. A igreja faz muito bem pra mim, porque, quando você crê em alguma coisa, isso faz com que as coisas fluam pra você. Eu fui criada em berço evangélico – desde que nasci – e a religião faz parte da minha vida; Jesus faz parte da minha vida; a bondade, tratar a todos com igualdade, com amor, ajudar as pessoas, isso faz parte da minha vida.

BODYBUILDING BRAZIL: E por que isso não faz parte da cabeça de outros?

LARISSA CUNHA: Não sei... Acho que isso é uma coisa familiar, né... Ou da índole da pessoa... O pastor da minha igreja falou uma vez pra mim que eu vou levar o nome de Deus onde as pessoas acham que Ele jamais poderia estar.

BODYBUILDING BRAZIL: Eu acho que aí é que está o verdadeiro trabalho, não? Levar o nome Dele onde Ele já está...

LARISSA CUNHA: ...onde Ele já está, é fácil. Agora, o difícil é você estar no meio de um monte de gente que tem apenas o amor próprio, não tem o amor pelas outras pessoas...

BODYBUILDING BRAZIL: A quem você deve toda essa alegria, esse sucesso, essas conquistas?

LARISSA CUNHA: Primeiro, a Deus, por me dar saúde para eu estar sempre assim, cem por cento; à toda a minha família; aos meus alunos (o meu fã-clube!); aos meus dois irmãos, à minha mãe; à minha amiga Cleide, que está sendo muito importante em toda a minha preparação; a você, que está sempre me apoiando, há anos; e a Integralmedica, que me dá um grande incentivo

Entrevista consedida a BODYBUILDING

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